6.20.2013

Vamos falar do passado?


Compreenda apenas uma coisa: tudo aqui é mais real do que possa imaginar. Podem parecer diversas metáforas escritas, mas todas elas são reais. Mais do que possa imaginar.

Três longos anos. Três anos de sofrimento. Três anos de culpa. A partida para um mundo onde eu poderia esquecer os meus pesadelos reais foi relativamente muito fácil. O abraço terno que eu recebi na chegada me fez ficar, e ficar, e ficar... Quase que para sempre. No fundo, eu já havia perdido a esperança. Eu já havia me entregado, e sabia (ou pelo menos imaginava), que o futuro real não mais existiria. Três longos anos sem dormir direito. À espera do primeiro raio de Sol para que minha alma pudesse repousar, sem ter tanto medo de que os demônios invadissem a minha mente e estuprassem meu corpo. Sem nunca mais conseguir dormir à noite, por medo. Dias sem dormir, uma eterna sonâmbula, uma amante que nunca foi amada. Três anos de sofrimento, e vocês nunca poderão imaginar as noites que passei acordada chorando copiosamente por vocês e para vocês. Toda a dor dilacerante na alma, desde o dia em que não estava lá, o dia da traição, em que estava vendo o motivo da minha vida ir embora em um hospital. Eu me lembro como se fosse hoje, de deitar no sofá, com uma blusa branca de tricô e pensar "O que será da minha vida agora?", mas a minha escolha foi fugir da realidade e me entregar a outra vida, e fui recebida de braços abertos. Dias sem nunca mais dormir, ouvindo sussurros de demônios que me perseguiam, demônios estes que o Enganador de Tolos me mostrou com sabedoria, plantou em minha mente. Vocês nunca poderão imaginar a dor pela qual eu passei. Todas as lágrimas que derramei e toda a vida que se esvaiu de mim, foi simplesmente perdida. Vocês todos nunca estiveram lá realmente para olhar, que no fundo eu não passava de uma menina com muito medo, sozinha, e tola. Uma princesa que sempre esteve presa ao seu castelo de desejos, inútil, fútil, egoísta. Uma maldita medrosa, uma amaldiçoada. Outro rosto, mas com a mesma personalidade. A mesma essência, a mesma garotinha, fingindo ou tentando apenas ser alguém melhor. Os desejos de morte. Os desejos de encontro. Nunca saberão nada disso. A vontade de morrer quando eu descobri toda a verdade. O meu coração partido, quando me cortaram em pedaços.

Eu enlouqueci. Eu me sentia cada vez mais perto Dela, e me lembro da primeira vez que ouvi sua doce e suave voz. É algo belo, é trágico, é encantador. Ela morre e nasce comigo durante todos os dias, e hoje eu acredito que isso irá perdurar até o fim dos meus dias. Porque hoje eu entendo que ela simplesmente sou eu, e ponto final. Minha cabeça virou, meus sentimentos passaram a ser tão confusos de uma maneira que eu nunca mais consegui me enxergar novamente. Eu precisei de ajuda, mas eu nunca a tive. Eu fiquei louca, neurótica, medrosa, impulsiva, descontrolada... Eu bati nas pessoas, eu quebrei objetos. Eu enlouqueci e a minha alma simplesmente se perdeu, se entregou. Mas eu aceitei a minha loucura, minha doce loucura. Saber lidar com coisas que nunca podem te abandonar às vezes pode ser um dom ou uma maldição.

A culpa. Depois de tudo, depois de todas as lutas para que tudo fosse recuperado novamente, em vão, o que me restou foi apenas a solidão (aquela minha companheira inseparável) e a culpa. A culpa que eu carreguei nos três anos e nos próximos três, uma culpa que me perseguia todas as noites, desde a hora que eu colocava a cabeça no travesseiro, até o momento que despertava. Uma culpa que me levou ao fundo do poço. Um sentimento de ser maldita, de ser uma prostituta de Satã, um ser humano que só merecia a morte. Uma culpa que foi apenas superada com o tempo. Pois com o tempo, eu simplesmente esqueci. No meu Palácio de Memórias, restaram apenas algumas memórias muito confusas, e a culpa que matou parte da minha alma, desapareceu.

Eu amei. Meu amor, meu querido, doce amor. Nunca duvide, por favor, do quanto eu amei. Amei de uma maneira obsessiva, estranha, doentia, errada. Mas eu amei. Eu juro que amei. Amei a maneira que me ensinaram a amar, simplesmente. Nunca duvide, eu errei muito (vestígios de culpa até hoje), mas eu verdadeiramente lhe amei.


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Após inúmeras noites em claro, após o meu escapismo final para me reencontrar comigo mesma e com Ela, eu conseguir acordar. Minha mente deixou de questionar, pois eu não fazia mais questão de compreender. A minha culpa transformou-se em algo compreensível, pois toda a dor, todo o sentimento de culpa, e todo o amor, foram compartilhados por todos os presentes.
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Acredite quando eu lhe disser que esse é um desabafo por amor. E eu agradeço. Hoje eu agradeço por tudo que passei. Por esses três anos insanos de dor, de conflitos e loucura. E eu amei cada dia que passei e cada facada no meu peito. Hoje, eu apenas agradeço por ter me tornado alguém um pouco melhor depois disso tudo. Assim como as cicatrizes tem o poder de nos lembrar de que o passado foi real, o tempo também passa. Mas a nostalgia, ela sempre irá permanecer. Pois as lembranças guardadas no Palácio de Memórias permanecem, e o amor transformou-se em carinho e uma sincera gratidão por tudo que me fez transcender de alguma maneira. Muito obrigada, por toda a dor que eu passei. Hoje eu sei que nada daquilo foi em vão. Hoje, eu diria sim, se tivesse que viver tudo aquilo novamente, pois eu sei que sobreviveria, e passaria a ser alguém melhor.

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